A língua inglesa fala em retire, que podemos traduzir por se retirar, se afastar ou até bater em retirada. Os portugueses chamam reformar. Nós optamos pelo termo aposentar, que vem do latim ‘pausare’ que significa pausar, parar para descansar.
Atualmente, as palavras ‘reformar’ e ‘aposentar’ são mais adequadas a esse momento importante da vida profissional. Não estamos nos retirando do mundo do trabalho, estamos apenas dando uma pausa, uma parada para descansar, refletir, ressignificar algumas coisas. E em seguida, continuar. Parar é morrer.
Produtivo, útil e ativo
Pesquisas apontam que as pessoas que ao se aposentar param toda e qualquer atividade produtiva – deitam-se numa rede e fica vendo o tempo passar – têm uma sobrevida muito menor do que os que continuam trabalhando.
Claro que agora esse ‘trabalho’ tem outro sabor. É você que o escolhe e decide quanto tempo vai se dedicar a ele.
Conheço uma psicóloga, aposentada de uma estatal, que adotou o sistema de trabalho TQQ, isto é, só atende seus clientes nas Terças, Quartas e Quintas. E mais: ela só faz teleatendimento, o que lhe permite fazer suas viagens, pois pode atender seus clientes de qualquer lugar do mundo, basta ajustarem os fusos horários. É um privilégio que ela conquistou.
Perguntei a um profissional quanto tempo ele levou para assimilar a sua nova condição, a de aposentado. Ele respondeu de chofre: – Dez minutos!
O outro lado da moeda
Essa transição, entretanto, não é tão simples como pode parecer. Muitos se dedicam tanto ao seu trabalho que não conseguem se afastar. Veja essas histórias:
- Um gestor não contou para a família que tinha se aposentado. Ele saía de casa todos os dias e ia para a empresa. Era sempre bem recebido e se dedicava a conversar com um e com outro, almoçava por lá e voltava para casa no final do dia.
A família levou meses para perceber essa situação e quando tentaram impedir essa sua ‘nova’ rotina ele adoeceu.
- Um amigo, quando se aposentou, postou nas redes sociais uma foto jogando na lata de lixo o seu terno. Pouco depois entrou em depressão e levou mais de um ano para se recuperar.
- Perguntei a um profissional se ele ia aderir ao plano de incentivo à aposentadoria da empresa. Sua resposta foi impactante. Nunca esqueci. Disse-me que a vida dele era o seu trabalho. Era viúvo, seus filhos, todos casados, não moravam na cidade. O pior momento do seu dia era quando terminava o seu expediente e ele tinha que voltar para o seu apartamento vazio. E o melhor momento era de manhã, quando tinha que vir para a empresa.
É preciso se preparar
Há uma coisa em comum nestes casos e outros que acompanhei: eles não se prepararam para essa nova fase da vida.
É comum as pessoas subestimar esse momento. Não pensamos sobre ele por vários motivos:
- Inconscientemente achamos que nossa relação com a empresa é eterna;
- Não damos conta da velocidade do tempo e quando percebermos já chegou o momento;
- Muitos querem tanto se aposentar que acham que não precisam se preparar para isso, será ‘tudo perfeito’.
Seja qual for o seu motivo, não se engane: é preciso se preparar para se aposentar, mesmo que sua intenção inicial seja não fazer nada.
O que é importante para você?
O primeiro passo, não poderia deixar de ser, é uma reflexão profunda sobre o que você espera desse novo período da sua vida. Não se trata simplesmente de pensar sobre. É necessário dedicar um tempo razoável para isso e fazer de forma sistemática.
O ideal que é você contrate um profissional especializado em transição de carreira ou aposentadoria. Entretanto, se você é determinado e não pode investir em uma mentoria, sugiro, alternativamente, que você responda o seguinte questionário que retirei do livro Mais tempo e mais dinheiro, de Cristian Barbosa e Gustavo Cerbasi.
Assessment
Recomendo que você escreva suas respostas.
Primeiro Grupo
- O que realmente faz sentido em minha vida?
- Por que eu trabalho?
- O que eu quero conquistar ao longo da minha carreira?
- Como eu gostaria que minha família estivesse daqui a cinco anos?
- Como estará minha saúde daqui a 05 anos?
- Que bem de valor pretendo adquirir nos próximos meses?
- O que eu faria se tivesse mais tempo livre?
Segundo Grupo
- O que um amigo diria de mim se eu morresse hoje?
- E um inimigo?
- Como eu sobreviveria se algo muito forte me impedisse de trabalhar daqui para frente e não pudesse mais contar com os rendimentos do trabalho?
- O que seria da minha vida se uma decisão judicial me tomasse todos os meus bens?
- Como ficaria o padrão de vida de minha família se eu morresse hoje?
- O que eu e minha família faríamos se descobríssemos que fui acometido de uma doença grave e possuo apenas um ano de vida?
- E se em vez de mim, fosse meu cônjuge, meu filho ou minha mãe/meu pai?
- No dia que eu estiver muito velho e incapacitado, quem estará do meu lado?
- Se, um dia, eu precisar que alguém me defenda de uma grave e injusta acusação, quem comparecerá para arguir sobre meu caráter?
- Se meu casamento acabar hoje o que muda na minha vida?
Terceiro grupo
Quanto tempo eu dedico a cada papel que desempenho (considerando 100 horas úteis por semana). Ajuste a tabela para a sua realidade:
Papel | Percentual de tempo ou horas | Poderia ser mais? Sim/Não |
Cônjuge | ||
Pai/mãe | ||
Filho(a) | ||
Irmão/irmã, tio/tia, cunhado/cunhada | ||
Profissional | ||
Amigo(a) | ||
Membro da comunidade | ||
Você |
Quarto grupo
- Como estão as minhas atividades que equilibram os quadrantes:
- Físico –
- Mental –
- Emocional –
- Espiritual –
- Meu propósito de vida está claro? Estou satisfeito com o meu propósito?
Acompanhamento
Depois de responder a primeira vez esse questionário, salve-o e volte a ler suas respostas uma semana depois. Faça isso como se fosse a reflexão de outra pessoa e sem julgamento.
Caso você esteja relativamente distante da sua aposentadoria, visite suas respostas periodicamente – a cada seis meses é um bom tempo.
Suas respostas serão a base do planejamento do seu segundo tempo, que abordaremos no próximo artigo.