A comunicação é, e vai continuar sendo, uma das principais competências humana, senão a principal.
É por meio dela que mantemos relacionamentos em todos os papeis das nossas vidas, seja pessoal ou profissional.
A Comunicação no mundo do trabalho
O que faz um gestor, ou um líder, durante todo o dia? Se comunica! Simples assim.
Mobilizar, engajar, atender, satisfazer, ouvir, demandar, convencer, encantar, empolgar, implementar, valorizar, reconhecer, desenvolver… Tudo isso pode ser traduzido ou simplificado no verbo comunicar.
E as coisas mais operacionais, do dia a dia? Também! Conduzir uma reunião, dar uma ordem, elaborar um e-mail, emitir um feedback, atender uma ligação, responder uma mensagem, definir prioridades, elogiar um membro da equipe… Tudo isso é comunicação.
Você pode estar se perguntando: se a comunicação é assim tão importante, por que existem tão poucas ações para melhoria dessa competência? Na realidade essa percepção está equivocada. Quase todas as ações de desenvolvimento dentro de uma organização objetiva, em última análise, em melhorar a comunicação.
Quando você participa de um curso de melhoria do clima organizacional ou de desenvolvimento de liderança, um dos objetivos, mesmo que subjacente, desses treinamentos é melhorar a comunicação do gestor.
A Comunicação na sua vida pessoal
Aqui cabe o mesmo argumento utilizado para sua vida profissional, se é que se pode separar. Sua vida se resume em comunicar.
Ouvir, pedir, amar, presentear, educar, compreender, convencer, atender, aconselhar, satisfazer, encantar, surpreender, brincar, jogar, elogiar, assistir… E esses verbos podem e devem ser também pensados na voz passiva: ser ouvido, ser compreendido, ser convencido…
É a comunicação que dar suporte para tudo isso e muito mais. Até mesmo as relações mais íntimas podem ser traduzidas como a comunicação dos corpos.
“Quem não se comunica se trumbica”. Quem se comunica também.
Afinal, a melhor intenção do mundo – seja no mundo do trabalho ou nos seus relacionamentos pessoais – pode ser destruída devido a forma com que ela foi comunicada.
Muitas vezes, é possível reverter a situação, conforme afirmando no artigo É conversando que a gente se desentende (click aqui e leia).
Entretanto, o ideal é evitarmos que o desentendimento aconteça. Para tanto, indica os especialistas, precisamos compreender o processo de comunicação, que não inclui apenas emissor, receptor, mensagem, o código e os ruídos.
Durante a comunicação é preciso estarmos atentos ao ambiente, as circunstâncias, a relação de poder, os valores individuais e momento de cada um. Só para citar os mais importantes.
A Comunicação e a violência
Marshal Rosenberg enriqueceu essa discussão apresentando outros aspectos da comunicação. Como doutor em psicologia, seu objeto de estudo sempre foi a violência – em todos os níveis – e como reduzi-la.
Suas pesquisas e a sua prática como pacificador e mediador de conflitos no mundo inteiro, principalmente nas regiões mais violentas do globo, mostrou que a violência está relacionada, em boa parte dos casos, ao processo de comunicação.
A Comunicação além dos seus elementos tradicionais
Rosenberg concordava que a forma de se comunicar era realmente muito importante, assim como os valores dos interlocutores. Entretanto, se deparou com situações em que a mesma forma de se comunicar, com pessoas de valores semelhantes, tinham resultados diferente.
Aproximando mais sua lente do problema, percebeu que os sentimentos e as necessidades dos envolvidos tinham tanta influência no resultado do diálogo que os demais componentes da comunicação.
De posse dessa informação desenvolveu uma abordagem que visa aprimorar nossas habilidades de falar e ouvir, permitindo maior eficácia do processo: a Comunicação Não Violenta – CNV.
A expressão Não-Violenta, o psicólogo contou que pediu emprestado de Gandhi, se referindo a uma condição compassiva natural que aparece quando afastamos a violência de nossas vidas.
A Comunicação Não-Violenta
Para que cada um possa compreender os sentimentos e as necessidades presentes em uma conversa é preciso que estejamos dispostos a abdicarmos das nossas ‘armas’ e a ouvir verdadeiramente o outro.
E o primeiro passo para isso é compreender o fato. Olhar para ele sem emoção. Ver o que realmente aconteceu sem lhe emprestar nenhuma intenção ou motivo.
Em seguida devemos nos conectar com nossos sentimentos, acolhê-los e entender o porquê aquele fato nos fez sentir assim.
Assim, estender essa compaixão para o outro, favorecendo que fale dos seus sentimentos, sem julgamento.
Neste momento, as necessidades subjacentes aparecem e se torna uma maravilhosa oportunidade de satisfazê-las. Normalmente um pedido surge, explicita ou implicitamente.
A prática consciente nos leva a maestria
É claro que não é simples nem fácil. Entretanto, com esforço consciente é possível nos aprimorarmos nessa abordagem.
Isto é, em uma conversa séria (desentendimento de casais, entre chefe e subordinado, pais e filhos) é fundamental que as nossas respostas deixem de ser automáticas e emotivas e passem a ser mais conscientes. Que sejam baseadas na observação do fato que ensejou o processo e nos sentimentos subjacentes. E não em quem tem culpa ou razão.
Não vamos acertar na primeira vez nem na segunda. Mas, a cada tentativa vamos percebendo, e o nosso interlocutor também, como essa abordagem melhora o resultado da comunicação, contribuindo para a diminuição da violência e da nossa felicidade.
(No próximo artigo abordaremos os componentes Comunicação Não Violenta – CNV – em forma de um passo-a-passo).
Obs. A Girafa, imagem que ilustra esse post, é o símbolo da Comunicação Não Violenta. A girafa é o animal que possui o maior coração dentre todos os mamíferos terrestres e a CNV é também chamada de ‘A linguagem do coração’’.