Até pouco tempo, o conceito criado no final dos anos 1980, pelo Army College dos Estados Unidos, para descrever a era que vivemos, reinava absoluto. Era o Mundo VUCA. Acrônimo formado pelas suas características: Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade).
Mundo BANI
Acredito que esse conceito ainda é atual. Mas, como ele mesmo afirma que tudo é volátil, um novo acrônimo apareceu. Vivemos agora no Mundo BANI. Conceito apresentado por Jamais Cascio, professor, autor e futurologista da Califórnia. O mundo pós-pandemia seria então Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible (Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível).
- Brittle (Frágil): sem raízes sólidas e que pode mudar rapidamente ou se desfazer a qualquer momento. Em um mundo interconectado, isso é preocupante.
- Anxious (Ansioso): a fragilidade somada a imprevisibilidade gera medo, que resulta em ansiedade (uma das doenças mais comuns do nosso tempo). Isso prejudica o foco, mas favorece a ação.
- Nonlinear (Não-linear): a aceleração dos acontecimentos causa uma pane no sistema tradicional de causa e consequência. Uma decisão complexa pode não ter nenhum efeito e algo simples pode apresentar resultado desproporcional e imprevisível.
- Incomprehensible (Incompreensível): o volume de informação gerado diariamente é muito superior à capacidade humana de processamento. Temos muitos dados e sistemas eletrônicos, mas apenas fingimos que há uma lógica em tudo isso e que compreendemos o que está acontecendo.
BANI é consequência do VUCA?
Alguns pensadores afirmam que o mundo BANI é apenas consequência do mundo VUCA. Veja:
- A Volatilidade impactou as estruturas fazendo-as mais Frágeis;
- As Incertezas são tantas que geram cada vez mais Ansiedade;
- A Complexidade, advinda das inúmeras variáveis que compõe qualquer questão não nos permite saber de onde vêm as coisas nem para onde elas vão, ou seja, provoca a Não-linearidade;
- A Ambiguidade, a dúvida do que é ou não é, onde não há resposta correta, faz o mundo se tornar Incompreensível.
Perguntas que não querem calar
E como lidar com esse mundo caótico? Quais as competências que possam ajudar um profissional a ter sucesso diante desse contexto?
Li alguns artigos onde autores e gurus apresentam suas respostas. Algumas bastante consistentes. O próprio Cascio apresenta o seu modelo. Entretanto, eu queria saber a opinião de quem está na linha de frente, diariamente, desse novíssimo contexto.
Consulta a gestores e técnicos
Fiz, então, essas perguntas a noventa (90) profissionais, entre eles quarenta (40) líderes e obtive uma lista de 36 competências. Desconsiderei aquelas citadas apenas uma vez e agrupei as demais (22) em três grupos.
Lembro que competência aqui está na sua acepção mais genérica, pode ser entendida como habilidade, força, ponte forte, atitude e até conhecimento.
Olhar para o contexto
O primeiro grupo são competências que apontam para a necessidade de acompanhar o que está acontecendo para não sermos surpreendidos e atropelados pelas mudanças. São elas: resiliência, flexibilidade, adaptabilidade, abertura para o novo, pensamento crítico, e visão estratégica).
Essas, sem surpresa, foram as competências mais citadas. Para sobreviver e vencer em um mundo com essas caraterísticas, precisamos ser maleáveis e capazes de moldar situações adversas e/ou de nos moldar a essa adversidade.
Se as mudanças acontecem cada vez mais rápidas, a capacidade de absorver seus impactos nos ajudam a sermos mais eficientes e produtivos.
O Mundo BANI também impactará as organizações, desafiando suas regras e padrões. A rigidez nos processos pode colocar em risco os resultados futuros.
É por isso que as metodologias ágeis têm feito tanto sucesso. Elas não trazem apenas agilidade, trazem, principalmente, a flexibilidade propiciada pela capacidade de transformar as mudanças em insights criativos.
Olhar para o coletivo
Os profissionais e gestores consultados apontam para necessidade de valorizar o outro, a equipe, o grupo, os clientes, os amigos, a família, as pessoas. As competências referidas são: inteligência social, empatia, olhar atento para o próximo, liderança positiva, valorização da equipe, colaboração e ética.
Relacionamento saudáveis e produtivos nos dar suporte para enfrentar a fragilidade e complexidade desse novo mundo. E a criação e manutenção desse tipo de relacionamento nasce da capacidade de compreender os outros sem julgamentos.
Colocar-se no lugar dos outros, comprova a ciência, ameniza sintomas de ansiedade, até os mais agudos, tão presentes na atualidade.
Olhar para si mesmo
Por fim, nos ensinam a experiência dos líderes e técnicos consultados, é necessário cuidar de nós mesmos. Ou melhor, precisamos começar exatamente com isso. Apontam: autoconhecimento, apreender sempre, propósito, determinação, autocontrole, comunicação, coragem, accountability e Foco.
O autoconhecimento é ‘A Viagem mais Fantástica da sua Vida’. Saber quem somos, o que nos move, conhecer nossos valores e princípios e clarificar o nosso propósito, tudo isso tem energia mais do que suficiente para nos motivar a desenvolver as competências dos dois primeiros grupos.
Assim, estaremos, conforme a sabedoria coletiva dos líderes e não-líderes indagados, prontos para os desafios inerentes ao atual momento e de outros que porventura se apresentarão.