A minha trajetória no ambiente corporativo foi o meu caminho de Santiago de Compostela. Ali aprendi muito, principalmente com os demais caminhantes.
Encontrei pessoas voltando, paradas numa sombra, andando rápido, andando devagar, desistindo, pegando atalhos… Aprendi com cada uma delas.
Sou obrigado?
Um dia me deparei com um profissional que me fez a seguinte desabafo:
E se eu não quiser crescer? Sou obrigado a entrar nessa batalha, nesta disputa? Eu sei que quanto mais a gente sobe menos cargos existem para os pretendentes. Então, por mais que a concorrência seja leal e ética, ela termina sendo uma ‘disputa’, que eu não estou disposto a me submeter, me envolver nela.
Como muitos profissionais de RH, já cometi o equívoco de achar que todos os colaboradores queriam (até mesmo ansiavam) fazer parte do jogo da carreira, que chamei de novo labirinto (veja) (linkar) em outro artigo. Quase como uma obrigação.
Definição de sucesso
Ora, o trabalho precisava ter um significado (premissa que ainda considero verdadeira) e que seria o crescimento na carreira (premissa falsa) que implicaria em assumir cargos/funções mais complexos com salários melhores. Essa era a minha definição de sucesso. E o sucesso traria naturalmente a felicidade.
Então, como não jogar esse jogo? Por que desistir de ser feliz? Será que era por falta de competência? O que impediam aquele colega de buscar o sucesso?
O nome do jogo não é sucesso
Depois de alguns anos sendo orientador de carreira e estudando o assunto, percebei que estava errado. A nossa carreira é uma jornada, uma grande jornada. Ela precisa ser concebida como algo de longo prazo. Ela será sua companheira por quase toda a sua vida. Não é uma simples meta que você atinge, saboreia e parte para outra.
Sendo assim, o importante não será o ponto de chegada: com sessenta anos ser o CEO de uma grande corporação. Aí você olhará para trás e poderá ter uma surpresa desagradável e não terá mais tempo para corrigir.
A carreira profissional, portanto, não tem um ponto de chegada. É a nossa própria vida. É o que fazemos e somos enquanto estamos indo. Não é adiar a nossa felicidade até atingirmos o sucesso. Pelo contrário: é ser feliz hoje, e isso é ter sucesso.
Pautar nossa jornada pelo compromisso de fazer o melhor, de amar o que fazemos, de fazer entregas memoráveis traz mais chances de sermos promovidos do que se focarmos na promoção.
Tenha sucesso e será feliz
Não estou afirmando que a satisfação de se assumir um cargo que almejamos com os seus inerentes bônus não contribua para o nosso bem-estar. Claro que sim. E esse é um componente que não devemos desconsiderar.
Entretanto, quero chamar a atenção para a relação entre felicidade e sucesso que nos foi incutida. Aprendemos na família, nas escolas e nas empresas que só depois que alcançássemos o sucesso é que seríamos felizes. Sucesso antes, felicidade depois. Só seríamos felizes se tivéssemos um curso superior. Formamo-nos e nada. Só seríamos felizes se conseguimos passar naquele concurso ou ter aquela promoção. Ralamos, fomos lá, conseguimos e… nada!
Nos ensinaram errados. A aprovação no vestibular, a promoção no emprego, o atingimento de alguma meta pessoal só fez com que o sarrafo subisse mais. A meta só aumentou.
Seja feliz e terá sucesso
A boa notícia é que um grande e robusto número de pesquisas recentes, nos campos da psicologia positiva e da neurociência não deixam dúvidas que a relação entre felicidade e sucesso está invertida. A felicidade antecede o sucesso.
Os achados apontam que a felicidade favorece o desempenho, a criatividade, a produtividade, a resiliência, a eficiência e até a nossa motivação. As pessoas felizes, claro, têm, se quiserem, maiores chances e condições de terem sucesso.
Então, se você não quer fazer carreira, está tudo bem. Foque em ser feliz. Você vai se surpreender quando perceber que está fazendo muito sucesso!