A velocidade com que o mundo muda atualmente, além de ser impressionante, não foi prevista. Aconteceram mais transformações nas duas primeiras décadas do XXI do que em todo o século passado. E no meio do caminho teve uma pandemia.
No livro “Marketing e Comunicação na Era Pós-digital”, Valter Longo afirma que vivemos em uma época em que “Relações, marcas, comportamentos, preferências, tudo surge e desaparece em ciclos cada vez menores”.
A velocidade é a tônica
Nada, nem os filmes de ficção científica, nos preparou para essa realidade. E o que tem dado o tom é o avanço tecnológico, que democratiza a informação e o conhecimento; desmaterializa os negócios e processos; e conecta as pessoas. E, repito, numa rapidez jamais vista.
Lembro de um professor que utilizava as mesmas fichas de anotações para suas aulas por anos a fio. Elas traziam sinais dos tempos em sua coloração e em suas bordas. E isso não era nenhum problema. O conhecimento apreendido na faculdade era suficiente para toda a sua carreira.
Estudos apontam que entre 30 e 40% do conteúdo de uma graduação se torna obsoleto até o final do curso.
Novo profissional
O mundo mudou. E isso impacta todos os aspectos da nossa vida, mais notadamente, o mercado de trabalho, que necessita de um novo profissional.
Entretanto, nem a academia nem as empresas conseguem definir bem quais as competências essenciais desse concorrido e necessário colaborador. Considerando que uma das caraterística dessa era é velocidade com que as coisas mudas, essa indefinição é plenamente justificada.
Competências e mais competências
Existem vários esforços, alguns baseados em pesquisas científicas, no sentido de apontar essas competências. Em comum entre eles é a lista quilométrica que termina nos imobilizando ou nos assustando.
Destacaria a pesquisa realizada pelo National Research Council[1]. Durante um ano, um comitê formado por educadores, psicólogos e economistas fez pesquisas sobre o que se espera que os estudantes alcancem nos seus ciclos escolares, nos seus futuros trabalhos e em outros aspectos da vida.
O resultado foi publicado no livro digital “Educação para a Vida e para o Trabalho: Desenvolvendo Transferência de Conhecimento e Habilidades do Século 21”, apontam 48 competências agrupadas em três dimensões: cognitivo, intrapessoal e interpessoal.
Ora, se a velocidade (mais uma vez) é um dos principais traços dessa era, como se dedicar a desenvolver 48 competências?
Competências angulares
A solução, aponta alguns especialistas, é focar nas competências angulares, aquelas que se desenvolvidas potencializa as demais. Por exemplo, se você desenvolve a competência liderança, sem fazer nenhum esforço adicional, desenvolve também as competências trabalho em equipe, confiança, resolução de conflitos, influência entre outras.
Infelizmente, as competências angulares não são as mesmas para todos os cargos, organizações e profissionais. Liderança, citada acima, não seria uma competência angular para funções técnicas, por exemplo.
Outro problema é que não existe unanimidade entre os que militam nesta área sobre quais são as competências essenciais.
Consultando profissionais
Recentemente perguntei a 90 profissionais, entre eles 40 gestores: quais as três competências fundamentais para um profissional dos dias atuais? (Publiquei o resultado dessa consulta no artigo “Como lidar com o mundo BANI”, disponível aqui no Blog).
Colhi trinta e seis (36) competências, que mesmo depois de agrupá-las, cheguei a vinte duas (22). O que ainda é muito.
A minha lista
Existem algumas competências, entretanto, que independentemente da situação, da função e do contexto, podem ser classificadas como angulares: aprender a aprender; comunicação e força de vontade.
1. Aprender a aprender
Ora, se novos conhecimentos e tecnologias surgem da noite para o dia e convivemos constantemente com o imprevisível, aprender a aprender se tornou basilar. Aqueles que não conseguem atualizar suas habilidades com facilidade ficarão para trás.
Mas, não só aprender, precisamos também desaprender, desapaixonarmos pelo que sabemos, nos divorciar das nossas convicções. Ideias e conhecimentos novos geralmente são incompatíveis com os que já temos. É preciso desinstalar, desapegar das informações já assentadas.
2. Comunicação
E para isso é preciso ler, estudar, conversar, ouvir, opinar, expor, discursar, falar, prestar atenção, esclarecer, dialogar, aconselhar-se, perguntar e tudo o mais que um processo claro de comunicação exige.
A comunicação é a nossa principal ferramenta de trabalho e não há nenhum indício que ela possa vir a ser substituída. Pelo contrário, as novas ferramentas a nossa disposição só reforçam a importância dessa competência angular.
Pense na sua rotina de trabalho. Relatórios, reuniões, projetos, divulgação de resultados, conversa com o chefe, atendimento ao cliente, treinamento, cafezinho com os colegas, responder e enviar e-mails, planejamento, emissão de parecer… Consegue identificar algum momento que a comunicação não esteja presente?
Desenvolver uma escuta ativa; ter cuidado com a conteúdo e a forma da sua mensagem; conhecer os princípios da Comunicação Não-Violenta; dominar as modernas ferramentas; tudo isso sempre foi importante e hoje é crucial para o sucesso no trabalho.
3. Força de vontade
Você pode dizer – e eu tendo a concordar – que Força de vontade não é uma competência, se considerarmos que competência é a união sinérgica de Conhecimento, Habilidade e Atitude.
Entretanto, mantenho essa fantástica característica humana entre as “coisas” vitais para ser um excelente profissional e ter sucesso no mundo do trabalho.
Pesquisas atuais desconstrói a ideia do talento inato para se tornar uma pessoa bem-sucedida e apontam que ter garra conta duas vezes mais do que ter talento.
Angela Duckworth, pesquisadora e professora de Psicologia na Universidade da Pensilvânia, afirma que garra é a junção de da paixão com a perseverança. Se você quer muito uma coisa (paixão) e é persistente (perseverança) na busca desse obterá grande chance de conseguir o seu intento.
Novo mundo, competências antigas
Estamos em um mundo novo e ninguém nos preparou para ele. Tenho acompanhado muitas pessoas tendo sucesso nessa nova arena. E a sua maioria é feliz, aprenderam a aprender a aprender, se comunicam com maestria e não desistem nunca.
[1] Organização norte-americana que faz pesquisas sobre temas importantes da sociedade para ajudar governos a desenharem políticas públicas