Em 2009, quando morava no Espírito Santo, passei pela inesquecível experiência de subir no Pico da Bandeira[1].
Para resumir a história, às 9 horas, o grupo – formado por minha esposa, dois filhos, o guia e eu – já se encontrava na entrada do Parque Nacional de Caparaó. A ideia era ir até o pico (10 km dali aproximadamente) e voltarmos antes do anoitecer. Importante registrar: não tínhamos experiência nenhuma com trilhas.
Depois de andarmos 5 km por uma trilha moderada (desnível em torno de 500m) com um visual deslumbrante, chegamos a um platô denominado Terreirão, local de descanso e apoio de montanhistas e trilheiros. Estávamos só vivos.
Comemos, bebemos e nos confraternizamos com dezenas de outros companheiros de aventura, enquanto tentávamos recuperar o fôlego. Conversando com um e com outro, percebi que a maioria voltaria dali. Eram, como nós, principiantes na prática de caminhadas.
A vergonha de estarmos extenuados passou e uma sensação agradável de conquista, de sucesso, de “estar bem” tomou conta de nós. Afinal, nada mal para neófitos: caminhamos 5 km e chegamos a uma altitude de 2.370 m. Era o nosso maior feito dessa natureza. Estávamos acertados, iriamos ficar um pouco naquele platô e voltar.
Quando informei para o nosso guia sobre a decisão de voltar, ele me saiu com essa:
– É verdade que a maioria dos turistas só chegava até este platô. E que a trilha agora seria pesada (íngreme e com muitas pedras soltas). Mas, era verdade também que no mês passado ele guiou uma idosa de 80 anos até o pico…
Aquilo mexeu conosco. Arrumamos nossas mochilas e começamos a caminhar na frente do guia. Fisicamente esgotados e extasiados de prazer, vencemos. Tirei a foto que abre esse texto no cume do Pico da Bandeira com as nuvens aos meus pés. Impagável.
A sedução do platô
Superar uma trilha de 10 km, nível hard (pelo menos para nós) e chegar a 2.892 m de altitude não foi fácil. Mas, a parte mais difícil daquela aventura foi vencer o platô.
Merecíamos descansar, as pessoas reconheciam o nosso esforço e sentíamos participantes de uma casta: aqueles que chegaram até ali. Por que arriscar tudo isso e continuar a subir? A trilha por vir, como reconheceu o guia, era mais íngreme e perigosa… As poucas pessoas que estavam descendo do Pico pareciam mais cansadas que felizes.
Devido à provocação do guia ou por outros motivos, conseguimos romper a inércia que nos prendia ao platô. A partir do primeiro passo rumo ao cume, todas as desculpas ficaram sem sentido. E conseguimos. E a sensação foi indescritível.
Quem fica no platô?
Identifico três grupos de pessoas que ficam no Terreirão. O primeiro é aquele cujo objetivo era de chegar até lá. O segundo, que pese ter sonhado ir mais longe, deu seu melhor e só conseguiu chegar até o platô. As pessoas que formam esses dois grupos estão felizes com a sua performance. É natural e esperado que nem todos cheguem ao cimo.
As pessoas que formam o terceiro grupo (e este post é para elas), visavam o pico e têm habilidades para isso, entretanto, foram seduzidas pelas benesses do platô.
Durante a minha trajetória me deparei com muitos profissionais nessa situação. As justificativas (ou desculpas) são as mais diversas. E o que é mais impressionante é que na escalada do mundo corporativo – diferente das montanhas naturais – quando você para começa a ir para trás.
Esse retroceder é lento, muitas vezes imperceptível e, consequentemente, cruel, pois é responsável por perda de posição e até de demissão. Seduzido pelo platô, o profissional não se dar conta que tudo que fica parado perde valor.
Até para aqueles que têm como objetivo chegar apenas nas posições intermediárias da sua empresa, precisa ter em mente que esses ‘postos’ também estão em constantes mudanças e que, até para continuar no platô é preciso continuar caminhando.
É você quem define até onde quer ir
Não há nenhum demérito em querer ficar no platô. Pelo contrário. Menos de 10% dos colaboradores conseguem chegar nesse estágio. Para se chegar aqui é preciso muita dedicação e entrega. São pessoas de sucesso.
Se, entretanto, você sempre quis e pode mais e percebeu que o platô não é o seu lugar, é hora de seguir viagem. Confira suas ferramentas, aperte seus cadarços, encha seu cantil e ajuste seu boné. Abandone os pesos desnecessários, inclusive, as desculpas.
A jornada será árdua, mas prazerosa. Logo nos primeiros passos você será invadido por uma sensação de plenitude e se questionará por que não fez isso antes.
[1] O Pico da Bandeira está localizado entre os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, tem 2.892 metros de altitude, sendo o 3º pico mais alto do país.