Certa vez ouvi uma história, mais ou menos assim: uma pessoa que passava perto de uma pequena praça praticamente deserta, observou que um menino brincava sozinho.
A praça estava clara, pois a noite estava apenas começando e a lua estava alta e magnífica. O menino catava algo no chão e atirava em direção ao céu. O nosso observador, curioso, se dirigiu à criança e perguntou:
– O que você está fazendo?
O garoto olhou para o seu interlocutor como se dissesse ‘não está vendo?’ Depois, pegou outra pedra, a lançou e disse:
– Estou atirando pedra na lua.
Mirando alto
O homem deu com os ombros e continuou seu caminho. Mas, tendo dado apenas alguns passos, parou e se voltou mais uma vez para o menino, que continuava o seu ‘treinamento’.
– Você sabe que não vai acertar a lua, não sabe?
O menino, desta vez sem interromper seus lançamentos, respondeu:
– Sei.
Satisfeito com a resposta, o homem retomou o seu destino, mas, em seguida ouviu:
– Não vou acertar a lua, mas, aqui no bairro, eu sou o menino que atira pedras mais alto.
Há quem mire alto
Eu conheci esse menino – ou uma versão dele – mas, já era adulto. Estávamos começando a subir os primeiros degraus da grande corporação que trabalhávamos e ele sempre dizia:
– Eu serei vice-presidente de gestão de pessoas.
Sua pretensão era menor do que acertar uma pedra na lua. Afinal, não existe nenhuma lei natural que o impedisse de realizá-la. Entretanto, para um menino nascido no interior do Maranhão que pertencia ao chão de fábrica, podia parecer no mínimo, algo improvável.
Passei um tempo sem ver aquele menino
Ele não queria apenas ser um vice-presidente. Seu sonho era revolucionar a empresa com a sua forma de ver o mundo por meio do cuidado com as pessoas.
O tempo passou e fomos levados para desafios diferentes. Terminei trabalhando na área de gestão de pessoas e ele na área de finanças. Mas, isso não diz nada, pois ele continuava sendo uma das melhores pessoas que eu conheci na vida.
O seu foco o fazia melhor
Ao direcionar sua energia em ser o vice-presidente de gestão de pessoas daquela organização, ele se tornava, a cada dia, um melhor funcionário. Todas as competências retiradas de um livro de liderança lhes cabiam como uma luva: dedicação, motivação, engajamento, comprometimento, mas, muito mais do que isso, ele colocava o seu coração em tudo que fazia.
Seu olhar generoso via e reforçava em nós o que há de bom. Parecia um superpoder. Os seus liderados se sentiam mais fortes na sua presença. Uma Kryptonita ao contrário. Um verdadeiro líder.
Resultados robustos são compatíveis com o respeito
E foi assim, desafiando a lógica preponderante, que ele saiu da pequena cidade do interior e assumiu funções cada vez maiores na área de negócio. Chegou, inclusive, a coordenar um dos segmentos da corporação naquele Estado.
Em todas as suas interações, ele provava que o respeito às pessoas não é incompatível com resultados financeiros robustos e consistentes. Pelo contrário, ficava cada vez mais claro que o amor que ele colocava nas suas ações era o que dava sustentabilidade às relações e, por consequência, aos negócios.
Ninguém está a salvo do imponderável
Infelizmente, ele foi obrigado a se afastar de suas atividades para se dedicar ao maior desafio da sua vida: a luta contra o câncer. Não saberemos se ele chegaria a ser vice-presidente de gestão de pessoas.
Esta história não termina aqui. Ele venceu a batalha e hoje vive de transformar vidas por meio de palestras, livros, consultorias e mentorias. Já publicou três livros e está escrevendo o quarto. E foi eleito membro da academia de letras da sua cidade.
Ele continua mirando na lua
Em recente visita à São Luís, tive uma agradável e rica conversa, regada a um bom café e emoldurada pela bela baía de São Marcos. Na oportunidade perguntei aonde ele ainda queria chegar.
Com o seu sorriso puro de quem tem evoluído muito, me respondeu que quer apenas ser um dos escritores mais lidos do Brasil e um dos palestrantes mais conhecidos. Mas, que isso será apenas o meio dele se tonar uma ferramenta de transformação na vida de milhões de pessoas.
Esse personagem da vida real se chama Prêtenci, o meu menino daquela praça. E não tenho dúvidas que ele chegará lá, pois continua mirando na lua.