Certa altura da minha vida me vi decepcionado com o curso que tinha escolhido e com a consciência que meus pais não podiam continuar bancando as minhas indecisões quanto ao meu futuro. Era hora de começar a me sustentar.
Passei no concurso do Banco do Brasil e tomei posse em uma pequena cidade do interior do Maranhão. Entregava um serviço de qualidade e recebia em troca meu salário e um pacote de benefícios que me permitia ter uma vida digna. Era uma troca justa.
Com o passar do tempo, entretanto, vi minha motivação e produtividade diminuírem e percebi que o salário já não me trazia tanta satisfação. Sonhava com frequência em concluir um curso superior e sentia que me faltava algo. Ansiava os finais de semana e as férias.
Um dia ao acaso…
Certa vez, substituindo um colega, fui fazer uma vistoria em um pequeno empreendimento rural. Por coincidência, era uma operação que eu tinha conduzido desde a proposta até a liberação dos recursos. Lembrava de ‘seu’ Vicente e sua peregrinação para conseguir aquele crédito. Um técnico de uma empresa estadual de assistência técnica e extensão rural, que tinha feito o projeto, me acompanhou.
Fomos bem recebidos pelo produtor que fez questão de nos acompanhar no trabalho de fiscalização. Ele exalava felicidade por todos os poros por ter finalmente conseguido o empréstimo, feito o pasto e adquirido o seu gado.
Dirigia a mim sua gratidão, mesmo insistindo que eu só fizera a minha obrigação como funcionário do Banco. Durante o almoço, que fez questão de nos convidar, explicou o destino da venda do leite, além de pagar o financiamento: colocar os filhos para estudar na cidade e empregar algumas pessoas para o manejo do gado.
… que mudou minha vida
Fui totalmente impactado por aquele dia, mesmo ainda não tendo entendido o que me acontecera. Na volta para a cidade, mal troquei uma palavra com o amigo que dirigia o jeep.
A partir de então comecei a prestar atenção no que fazíamos – meus colegas e eu – naquela cidadezinha eminentemente rural. Por mais que não falássemos sobre isso, nem mesmo o gerente, percebi que nosso trabalho tinha impacto direto nas vidas daquelas pessoas.
O trabalho como missão
Não fazíamos empréstimos ou captação de recursos. Nós realizávamos sonhos. E isso não é força de expressão nem exagero.
Quando abríamos uma poupança, estávamos guardando com segurança e remunerando os valores, obtidos com muito esforço, daquela população pobre. Ajudávamos, desta forma, na realização de um desejo: compra de um eletrodoméstico, a reforma da casa, a festa de quinze anos, o casamento, o carro…
Quando concedíamos um empréstimo, contribuíamos no nascimento ou ampliação de um empreendimento, na construir a casa própria, na comprar um telefone (naquela época um telefone fixo era muito caro, constava até na relação de bens da declaração de renda da receita federal), na geração de empregos…
A felicidade veio antes do sucesso
Meus finais de semanas continuaram prazerosos e desejáveis, mas, ir para o banco, diariamente, começou a ser mais leve e a noite do domingo deixou de ser angustiante.
Poder ajudar as pessoas por meio do meu trabalho me trouxe mais motivação, satisfação e meu gerente percebeu aumento na minha produtividade.
Trabalhei por trinta e três anos no Banco do Brasil, sempre ajudando as pessoas, clientes e funcionários, o que me tornava muito feliz. Tive sucesso na minha carreira, fui promovido várias vezes e alcancei um bom salário.
‘Não procure o sucesso’
Por muito tempo eu não conseguia fazer nenhuma relação entre a minha felicidade no trabalho e o meu sucesso. Às vezes achava que tinha tido sorte em ter encontrados bons gestores/coachs, o que era verdade, mas não explicava tudo.
Só quando li o livro Em busca de sentido, de Vickor Frankl, é que as coisas começaram a ficar claras. Frankl, neuropsiquiatra, foi testemunha de uma das maiores misérias humanas – confinamento em campos de concentração nazistas – e constatou a importância de se ter um sentido na vida. Ele é o fundador da Logoterapia – abordagem psicoterapêutica fundamentada no sentido da vida. Viktor afirma:
Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e transformarem em um alvo, mais vocês vão errar. Porque sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior do que a pessoa.
Sucesso é efeito colateral
Se ter um propósito tem todo esse impacto na vida de uma pessoa. No mundo do trabalho não seria diferente. Shawn Achor, professor e pesquisador de Harvard, afirma que quando o indivíduo consegue estabelecer o vínculo do que faz e do impacto positivo isso gera para os clientes, as tarefas corriqueiras não só passam a ser mais suportáveis como também as realizam como mais dedicação e, consequentemente, melhora a performance.
E foi assim. Agradeço muito ao senhor Vicente, produtor rural de São Luís Gonzaga do Maranhão, que, sem querer, me ajudou a descobrir o meu propósito, o que me tornou mais feliz. Como efeito colateral, aumentou minha satisfação, motivação e performance. Que por sua vez me fez ter sucesso na minha carreira.