“Vou ser astronauta”. Dizia todo convencido quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. Era o início da década de ’70 e o cara do momento era Neil Armstrong. A sua foto ao lado do capacete me fascinava.
Depois, quis ser biólogo. Achava fantástico o mundo visto por um microscópio. Cheguei a cursar quatro anos de Química e me formei em Direito. Nem astronauta nem biólogo nem químico nem advogado. Terminei me encontrando como gestor e educador.
Poderia ter sido diferente?
Aprendi e amadureci bastante nestes quase dez anos para concluir uma graduação. É verdade. Mas, creio que se estivesse feito Administração desde o início teria tido uma carreira mais leve e mais rápida. Teria me deparado mais cedo com o meu propósito e com minha realização profissional. E isso faz toda a diferença na vida de uma pessoa.
Essa minha história é comum. Quantos não fizeram vestibular para um curso e concluíram outro? Quantos pensaram em ser médicos e são excelentes engenheiros? Sonharam em ser pilotos e são realizados como professor. Milhões. Em todo o mundo.
Decisão cruel
Afinal, que experiências e conhecimentos temos, quando adolescentes, para decidir o que faremos pelos próximos 30 ou 40 anos da nossa vida? É verdade que existem algumas pessoas que têm vocação. Parecem que já nascem com uma programação. Quando conseguem unir a profissão a esse dom tudo se resolvem.
Entretanto, a maioria dos mortais, como eu, não tem a menor convicção se aquele sonho de voar em um caça tem a ver com profissão ou é só alguma coisa legal e excitante a se fazer.
É preciso ajudar e apoiar os filhos
Alguns pais decidem a profissão do filho e outros dão total liberdade para que eles decidam (os meus estavam neste último grupo). Mesmo não existindo uma fórmula correta, os extremos, quase sempre, não são o melhor caminho.
Repetimos exaustivamente que queremos a felicidade de nossos filhos. Abandoná-los à própria sorte, mesmo sob a égide de não querer interferir nas suas escolhas, chega a ser uma crueldade. Decidir por eles, mesmo se baseando na imaturidade deles, não contribui em nada com a felicidade propalada. Nada pior do que fazer algo pelo resto da vida só porque alguém assim decidiu para nós.
O caminho do meio seria então orientar os filhos nesse momento tão complicado e crucial na vida de qualquer pessoa. Já afirmei em outro post, parafraseando Artur Roman, que se os conflitos se manifestam nos processos de comunicação, é nesse mesmo espaço que se pode promover o entendimento. E o responsável por ajudar o desenvolvimento de uma pessoa não pode abrir mão dessa oportunidade.
Martin Seligman[1] compreendeu que “Educar filhos… é muito mais que corrigir o que há de errado com eles, é identificar suas forças e suas virtudes, ajudar a encontrar o nicho onde possam exercitar ao máximo esses traços positivos”.
O ponto inicial dessa conversa pode ser exatamente os sonhos do adolescente. E a partir deles, uma análise das opções que incluísse mercado, satisfação, possibilidade de crescimento pessoal e profissional e qualidade de vida.
E quando quem está perdido somos nós?
Dar sentido ao que fazemos nos traz inúmeros benefícios, além da melhoria da performance e da produtividade, entre eles destaco: diminuição do estresse, da depressão e da insatisfação. Ou seja, adoecemos menos.
Encontrei muitos profissionais na minha jornada, com anos de formados e de empresa e ainda não sabiam responder o que queiram ser quando crescessem.
Quando somos adultos o risco de alguém perguntar isso é baixo, daí podemos continuarmos fingindo que a situação está sob controle. Só que não.
Às vezes precisamos de ajuda
Eu já tinha ouvido falar nesses conceitos – propósito, sentido e missão – e me sentia realizado com o que eu fazia. Mas, só com vinte e cinco anos de empresa, em um treinamento imersivo de cinco dias é que pela primeira vez consegui colocar no papel o meu propósito.
O prejuízo de não ter descoberto antes o meu porquê só não foi maior, porque intuitivamente já tinha claro o meu propósito, conforme contei no post ‘O trabalho e o propósito: minha história.
Hoje, felizmente, existem vários profissionais que podem te ajudar a encontrar (clarificar, definir ou outro termo que você prefira) o teu propósito. Aquela atividade que te faz brilhar ou olhos e te encher de motivação.
Logoterapeutas, coachs e psicólogos estão aptos – com abordagens diferentes – para serem teus companheiros nessa viagem.
Afinal, agora que crescemos, precisamos saber, com clareza, o que queremos ser e fazer, que nos dê prazer e orgulho para aquele que amamos.
[1] No livro Felicidade Autêntica: usando a psicologia positiva para a realização permanente, de 2009, na página 56.