Certa vez, ministrando curso sobre avaliação de desempenho para novos gestores, pedi, no início do evento, que cada um se apresentasse e informasse por que quis ser gerente.
De todos os motivos, dois me surpreenderam: “Porque quero ganhar mais” e “porque quero comprar minha casa”.
Não houve, na oportunidade, possibilidade de aprofundarmos essas questões. Mas, elas me fizeram refletir sobre o que leva uma pessoa a querer assumir uma função gerencial e se isso influencia na performance.
A hierarquia das necessidades
Quando estudamos as teorias motivacionais, concluímos quão importante é o profissional está motivado. Afinal, a motivação é uma força interna que nos empurra na direção de nossas metas, objetivos e sonhos!…
Maslow[1] afirma que a motivação é explicada pelas necessidades humanas. De acordo com o autor, podemos afirmar, simplificando, que nos movemos para satisfazermos uma necessidade.
Na sua teoria, as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência. Na base estão as necessidades mais baixas (‘fisiológicas’ ou ‘básicas’). No meio, contam as necessidades de ‘segurança’, ‘sociais’, ‘autoestima’. No topo, as mais elevadas, denominadas de ‘autorrealização’ (vide esquema abaixo).
Que pese, a teoria não fazer relação entre o tipo de ação com o tipo de necessidade, nos parece que, naturalmente, essa relação acontece. Vejamos: se a necessidade de dormir se apresenta, não será participando de uma reunião que será aplacada.
Ou, ao contrário: se a necessidade é de autoestima, a negociação com o chefe de um horário mais flexível dificilmente resolverá.
Que necessidade estamos atendendo
Quando desperta em nós o desejo de sermos gestores, estamos (de acordo com a teoria acima) buscando satisfazer uma necessidade. A minha reflexão é: que necessidade é essa?
Acredito que se a necessidade (que tentamos satisfazer sendo gerente) estiver colocada do meio para o topo da escada, teremos muito mais chances de termos sucesso e sermos felizes. Explico.
No meio da escada (ou pirâmide) encontramos as necessidades “Sociais”. São necessidades de manter relações humanas com harmonia: sentir-se parte de um grupo, ser membro de um clube, receber carinho e afeto dos familiares, amigos e outras pessoas.
Ser gerente, com certeza, contribuirá para satisfazer necessidade desse tipo.
Subindo mais um degrau nos deparamos com as necessidades de “Autoestima”: sentir-se digno, respeitado por si e pelos outros, com prestígio e reconhecimento, poder, orgulho etc.
Essas necessidades são muito favorecidas, também, com o exercício de uma função gerencial.
Já no topo da pirâmide se instala as necessidades de “Autorrealização”. Ser aquilo que se pode ser, fazer o que gostamos, ser capaz de conseguir.
Aqui, nos parece, que a relação é direta entre a ação (ser gestor) e a necessidade. Sede/beber água; sono/dormir.
E a performance?
Ora, quando existe uma relação direta entre a nossa ação e a necessidade, a tensão desaparece e ficamos satisfeitos.
Se estamos com sede, o processo de enchermos um copo com água e bebermos nos traz prazer. Entretanto, se não há água no momento, o processo de irmos até o supermercado, comprar a água e voltarmos (mesmo sabendo que é para satisfazermos uma necessidade básica), não o fazemos com tanto prazer.
Da mesma forma, se o que nos leva a sermos gerentes é a satisfação de uma necessidade ‘básica’ ou de ‘segurança’, esse processo não nos trará satisfação (e sim o resultado dele: um salário maior). E, por consequência, nossa performance será sofrível.
E o mais grave é que podemos trazer sofrimento para aqueles que dependem, direta ou indiretamente, das nossas ações (membros da equipe, clientes, fornecedores e, inclusive, nossa família).
Uma melhor remuneração não compensa, nem de longe, os ônus de uma função gerencial. Ser gerente precisa resolver a nossa necessidade de autoestima ou autorrealização.
Não é certo que os gestores do início desse post são infelizes e seus resultados são questionáveis devido ao que os levaram a serem gerentes. Existem outras dezenas de variáveis que influencia na performance e na satisfação.
Afirmo, entretanto, que quando nossas escolhas vão ao encontro de nossas necessidades temos muito mais chances de sermos felizes. E de fazer os outros felizes.
[1] Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo norte-americano, conhecido pela Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas ou a Pirâmide de Maslow.