Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão:
outra parte
estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?