Por um tempo achei que já se escreveu tudo sobre liderança e que o conceito e a prática estariam consolidados. Nas minhas aulas e palestra, quando abordo esse tema, deparo-me muito pouco com aquela expressão de que estou falando algo essencial.
Entretanto, quando saio da academia e entro na corporação, me deparo com a realidade indigesta da falta de líderes. Seja ela de qual porte for; pública ou privada; independente do setor.
Uma pequena história
Recentemente, conversava com um experiente gestor de uma instituição pública quando ele recebeu uma ligação. Era noite. Consegui entender que um processo deixou de ser concluído. O prazo se expiraria naquela noite e traria prejuízo para a autarquia.
O meu colega ficou muito preocupado com a situação, o que me deixou feliz, pois nem sempre encontramos exemplos de zelo pela coisa pública. Ele pediu desculpas e fez algumas ligações e descobriu que ainda era possível reverter a situação. Assim, ligou para o gerente responsável pelo setor e deu uma ordem direta para que o executivo se deslocasse até a instituição e envidasse todos os esforços possível para reverter a situação.
Ameaça como instrumento de gestão
Diante de argumentos contrários aquela orientação, apresentados pelo seu subordinado (assim entendi), ele levantou a voz, repetiu a ordem, ameaçou o gerente de exoneração e desligou o celular de forma abrupta. Depois, dirigindo-se a mim, lamentou a falta de bons funcionários e discursou sobre comprometimento e eficiência.
Antes de continuar a ler esse artigo pare e pense um pouco: você faria igual ao meu amigo gestor?
O que é estranho nesse caso é que esse gestor, como falei no início, tem muita experiência como administrador e sei que ele pode proferir (e o faz) palestras sobre motivação e liderança. Ou seja, a teoria já está dominada.
A falta de repertório
Não defendo a ideia de que não podemos, na condição de gestor, dá uma ordem direta e assertiva. Pelo contrário, às vezes, principalmente, em situação de crise essa é a melhor forma de se agir. Em situações assim o que se espera é que o gestor diga claramente o que precisa ser feito.
Vêm agora à minha mente, pelo menos uma meia dúzia de decisões diferentes a levantar a voz e fazer ameaças. Antes de explicitar pelo menos duas delas, faz se necessário lembrar porque esse não é o melhor caminho.
“Gritar” e “ameaçar” denotam falta de argumento, de repertório, de respeito e de competência. Competência aqui está relacionada exatamente com o conceito mais batido de liderança: habilidade de influenciar pessoas para que realizem tarefas com entusiasmo. Ora, fazer alguém fazer algo por ameaça pode ser tudo, menos liderança.
E o que é liderança?
Fazer as pessoas fazerem por sua influência pessoal (que é uma habilidade e como tal apreendida) é a essência do conceito de Liderança. Quando usamos esse ou outro conceito como gabarito para a atitude do gestor, percebemos que os elementos básicos não se encontram presentes.
E como um Líder agiria?
O meu colega poderia, uma das muitas possibilidades, ter envolvido o seu subordinado na busca de uma solução para o problema (como podemos resolver isso?). E se essa solução fosse exatamente voltar a empresa à noite e resolver a situação não importa, ele iria satisfeito por ter contribuído para resolver a questão.
Outra possibilidade, que me seduz pessoalmente, era, assim que a orientação fosse passada, ter se disponibilizado para ir com o gerente responsável pela área – e ter ido. Nada melhor que o velho e eficiente exemplo para fazer as coisas funcionarem.
Esse e tantos outros episódios que presencio me fazem crer que precisamos muito, ainda, falarmos sobre Liderança. E mais: precisamos praticá-la.