Não sei a origem ou uma explicação racional convincente, mas é inegável que o final de um ano e o início de outro traz consigo uma magia. E tudo conspira para isso.
A música te pergunta “o que você fez” ou deseja que tudo se realize “no ano que vai nascer”. Os comerciais da televisão; as ornamentações das ruas e praças; os fogos; os cultos; as crenças, os ritos, em todo o mundo… tudo conspira na construção de um ‘novo tempo’.
Então, acreditamos, é hora de refletir e ajustar as contas conosco. E isso é bom. Daí vêm as famosas “resoluções de ano novo”. Quem não as fez?
As intenções são as melhores possíveis: rever os amigos; emagrecer; cuidar da saúde; ler mais; viajar; estudar; visitar os parentes… Quais foram as suas?
A roda viva
Entretanto, rapidamente, o furacão da rotina, os compromissos inadiáveis, a limitação orçamentária, as prioridades definidas por outrem jogam nossas boas intenções no lixo. Ou, como disse Chico Buarque:
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá…
E o que você fez?
Conversei com várias pessoas sobre suas resoluções do ano passado. A maioria não lembrava mais do que tinha se prometido. Um pequeno grupo lembrava, mas não tinha conseguido implementá-las. Apenas alguns tinham conseguido realizar quase tudo que se prometeu.
Não há nos dois agrupamentos (os que cumpriram e os que não cumpriram suas resoluções) nenhuma diferença considerável: têm os mesmos recursos (financeiros ou intelectuais) a sua disposição e suas pretensões eram exequíveis.
“- Minha resolução era fazer minha primeira viagem ao exterior no ano passado. Mas, não deu. As coisas simplesmente não aconteceram como eu previa e mal deu para ir ao Nordeste.” Depoimento do amigo José.
“- Viajar! Essa foi minha principal resolução para o ano que passou. Adoro viajar. A ideia era dividir minhas férias em duas. No primeiro período, iria sozinha a Machu Picchu (uma coisa mais transcendental, espiritual). A grana seria da primeira parcela do 13º e da minha participação nos lucros da empresa. No segundo semestre, com a segunda parcela do 13º e 1/3 das férias, eu e um grupo de amigos, fomos para Marrocos”. Depoimento da amiga Maria.
Desejo ou objetivo
Parece que encontramos nesses depoimentos a resposta à minha inquietação: por que abandonamos as nossas resoluções de ano novo? Esses dois padrões de respostas foram recorrentes.
Aqueles que não concretizaram seus desejos é que eles não passaram disso: apenas um desejo. Deixaram aquele sonho ao sabor da ‘roda vida’, dos acontecimentos, do acaso…
É como se tivessem escritos aquelas resoluções em um papel (alguns nem isso fizeram), fizeram um barquinho e o jogaram no mar. E ficaram aguardando cair do céu. Ficaram com o dardo na mão esperando que o alvo se aproximasse e acertasse nele.
Meta
Já os que realizaram seus desejos, como a Maria, conseguiram transformá-los em uma meta (‘duas viagens, uma em cada semestre’) realista, mensurável, com prazo, atraente e específica e depois definiu uma estratégia para concretizá-la (com quais recursos, com quem etc.).
É como se o dardo ganhasse vida e se atirasse no rumo do alvo. Mesmo que surjam obstáculos (e surgirão), a meta estando bem definida (alvo) e a estratégia acertada (o dardo e sua trajetória), a realização é inevitável.
O sonho é alimentado com ações
O sonho é fundamental, sem ele não há realização. “Tudo que existe ou existiu começou com um sonho”[1]. Entretanto, para que o sonho não morra é preciso alimentá-lo. Ele começa a ter corpo quando lhe alimentamos com as caraterísticas de meta. E depois, o sonho começará a andar sozinho quando for dotada de um plano, de uma estratégia.
E não precisamos aguardar o início do ano. Que tal testar?
[1] Do filme “As aventuras de Sharkboy e Lavagirl”.
Excelente reflexão, Miguel!
Obrigado Maurício.
Quantos sonhos maravilhosos estão dormindo em uma gaveta ou em uma pasta de computador.