Este é o quinto e último artigo da série Um Caminho para a Felicidade, com o intuito de analisar a proposta de Martin Seligman[1] de como podemos ser felizes ou mais felizes. O caminho apontado pelo pesquisador prevê o cultivo dos elementos abaixo:
P – Favorecer as Emoções Positivas;
E – Buscar o equilíbrio entre nossas competências e os desafios;
R – Dedicar-se a relacionamentos saudáveis;
M – Alinhar-se ao seu propósito; e
A – Conquistar os seus objetivos.
O acrônimo acima (PERMA) é do inglês: Positive emotions; Engagement; Relationship; Meaning; e Accomplishment.
Nos posts anteriores discorremos sobre as Emoções Positivas, Engajamento, Relacionamentos e Realizações. Agora é a vez do Propósito.
Propósito
Quando as pessoas acreditam – e atrelam seus objetivos – a uma causa maior do que elas próprias, são profundamente motivadas, satisfeitas e produtivas. Essa conclusão é embasada em várias pesquisas e sustenta a abordagem psicoterapêutica denominada Logoterapia, desenvolvida pelo psiquiatra vienense Viktor Frankl.
Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e transformarem em um alvo, mais vocês vão errar. Porque sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior do que a pessoa. Viktor Frankl.
O caminho, afirma o autor, não é buscar o sucesso ou a felicidade. São consequências do esforço das pessoas que têm um propósito. O próprio Frankl gostava de citar Nietzsche: “Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como”.
Propósito no mundo do trabalho
Se ter um propósito tem todo esse impacto na vida de uma pessoa. No mundo do trabalho não seria diferente. Shauwn Achor, professor e pesquisador de Harvard, afirma que quando o indivíduo consegue estabelecer o vínculo do que faz e do impacto positivo isso gera para os clientes, as tarefas corriqueiras não só passam a ser mais suportáveis como também as realizam com mais dedicação e, consequentemente, melhora a performance
No mesmo sentido, Kim Kameron assevera, com base nas suas pesquisas, que quando as pessoas acreditam ter um propósito ou se engajam no seu trabalho, há efeitos positivos nos seus resultados e na sua produtividade.
Isso inclui, segundo o cientista, redução de estresses, da depressão, do turnover, do absenteísmo, da insatisfação, além de apresentar um acréscimo de comprometimento, esforço, engajamento, satisfação e de um sentido de realização.
Emprego, Carreira ou Missão?
Importante estudo sobre a importância do propósito na motivação e, consequentemente, na performance, foi realizado pelas pesquisadoras Jane Dutton e Amy Wrzesniewski. Elas são da Universidade de Michigan e da Universidade de Yale, respectivamente.
A principal conclusão da pesquisa é que as pessoas encaram seus trabalhos de três formas, como um emprego, uma carreira ou uma missão:
- Emprego: aqui as pessoas veem o trabalho como um fardo e o salário como recompensa. Trabalham porque necessitam e estão sempre na expectativa do tempo que poderão passar fora do trabalho. O fim de semana ou as férias são os momentos mais esperados e, muitas vezes, os mais frustrantes, pois nem sempre atendem a expectativa.
- Carreira: as pessoas valorizam o salário e os momentos de folgas, entretanto, querem crescer profissionalmente e terem sucesso. Elas se envolvem no trabalho e querem ser bem-sucedidas.
- Missão: as pessoas com uma missão veem o trabalho como um fim em si mesmo. Seu trabalho é gratificante não devido a gratificações externas, mas porque elas sentem que contribuem para algo bem maior, aplicando seus pontos fortes pessoais em um trabalho que lhes oferece um senso de propósito.
As pesquisadoras encontraram pessoas com o mesmo cargo que encaravam os seus trabalhos de forma completamente diferente, alcançando níveis de motivação e felicidade igualmente distintos.
O trabalho além do emprego
Faxineiros de um hospital, por exemplo, eram divididos claramente entre pessoas que percebiam seu trabalho como um emprego e outras que o enxergavam como um propósito.
O primeiro grupo realizava as tarefas com o mínimo de esforço possível e evitavam ao máximo interação com os pacientes e com os colegas de trabalho. Esses trabalhadores consideravam o trabalho de limpeza de baixo nível de especialização e não faziam nenhum esforço para realizar tarefas fora de sua área de atuação. Engajar-se com os outros ou mesmo sugerir mudanças para melhorar a própria tarefa, não era considerado.
Já, os faxineiros do outro grupo agiam diferentes: realizavam tarefas que estavam fora do escopo do seu trabalho (sem ser solicitado que o fizessem), valorizavam as interações com os colegas, visitantes e pacientes.
Indagado sobre que fazia no hospital, um faxineiro respondeu: “eu curo os pacientes”. Tinha a consciência que um ambiente limpo e estéril era condição para que a cura acontecesse.
Trabalho gratificante, mais felicidade
Ao comentar essa pesquisa, Achor, no seu livro O jeito Harvard de ser feliz, afirmou que:
“não é de surpreender que as pessoas com uma orientação de missão não apenas consideram seu trabalho mais gratificante como também se dedicam mais e por mais tempo em consequência dessa atitude.”
De acordo com Csikszentmihalyi o propósito não se resume em algo transcendente, espiritual.
No seu livro Flow ele conta o caso de um operário de linha montagem que participou de suas pesquisas. Quando a esteira parava na sua posição, Rico tinha 43 segundos para realizar sua tarefa que se repetia seiscentas vezes por dia.
Era de se esperar que ele estivesse entediado e insatisfeito. Na realidade, Rico estava no emprego há mais de cinco anos e gostava dele. A questão é que Rico tinha um motivo, ele encarava sua tarefa como um atleta olímpico, queria bater o seu próprio recorde.
Rico treinava para melhorar seu tempo na linha de montagem. Após cinco anos, sua melhor média diária foi de 28 segundos por unidade. E o propósito de Rico não era tão nobre: ele queria apenas ganhar respeito de seus colegas e supervisores e ter a satisfação de saber que era capaz.
Conclusão: tudo junto e misturado
Importante ressaltar o seguinte, sobre o PERMA:
- Estas dimensões não são um passo-a-passo. Nenhuma antecede a outra ou a sucede;
- Nenhuma, isoladamente, define ou garante a felicidade;
- Os elementos são mensuráveis individualmente, mas devem ser vistos e vividos de forma integral.
Os elementos estão sempre muito ligados entre si: boa parte das emoções positivas vem de relacionamentos positivos; engajamento (flow) a seu turno gera emoções positivas e assim por diante.
Entretanto, se você quiser uma dica por onde começar, sugiro que cultive boas amizades e valorize suas emoções positivas. Ser feliz é possível. E necessário.
[1] Martin Seligman é professor e pesquisador da Universidade da Pensilvânia e ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, autor de Florescer entre outros.